26 de agosto de 2014

Praça Euclides da Cunha, no Recife (PE)


Na semana passada estive em Pernambuco, para palestrar na VII Semana do Patrimônio organizada pela FUNDARPE. E foi lá em Recife que Roberto Burle Marx iniciou efetivamente sua carreira na projeção de jardins públicos.

As imagens abaixo são da Praça Euclides da Cunha. A planta baixa foi elaborada pela arquiteta Ana Rita Sá Carneiro e o desenho na cor pastel é do próprio Roberto Burle Marx. Para esta Praça, conhecida também como Jardim das Cactáceas ou Cactário da Madalena, o elemento vegetal empregado foi muito semelhante àquele da casa da Rua Santa Cruz, projetada por Warchavchik. Concebido por Burle Marx em 1935, com presença marcante da vegetação da caatinga, o paisagista homenageou Euclides da Cunha e sua obra mais conhecida, Os Sertões, de 1902, com um jardim temático. 

O jardim das cactáceas foi assentado em blocos de pedras. No centro dessa estrutura, de acordo com descrição de Ana Rita Sá Carneiro, ficavam as cactáceas de onde partiam dois canteiros lineares gramados e passeios em terra batida até o limite da calçada da praça contornado por árvores típicas do sertão brasileiro de grande porte. Em seu projeto, foram incluídas espécies como macambira, xique-xique, mandacaru, cactos e bromélias. Numa das extremidades do jardim, fileiras de árvores se encontravam formando um pequeno bosque, com ipês, pau-ferro e juazeiros, onde se localizava o edifício da Estação Elevatória da Companhia de Saneamento de Pernambuco – COMPESA, construída pelo engenheiro Saturnino de Brito, em 1911 (CARNEIRO, 2009:221). Num gesto ousado, Burle Marx transplantou para uma praça do litoral pernambucano a vegetação típica do sertão nordestino brasileiro, semelhante ao que fizera Mina Klabin em São Paulo. 

Em artigo publicado em 1935, denominado “Jardins para Recife”, Burle Marx escreveu que sua concepção de jardim moderno se delineava a partir dos princípios de higiene, educação e arte. Os espaços tinham que ser amplos e públicos, seguindo o pensamento de “ordenar a natureza”, voltado para os espaços abertos das grandes paisagens naturais. Criando, desta forma, no habitante da cidade o amor à natureza (CARNEIRO, 2009:220).

Alvo de polêmicas e por falta de manejo regular das espécies vegetais, o primeiro jardim público projetado por Burle Marx adentrou o século XXI descaracterizado e em completo abandono. Em 2001, a Prefeitura do Recife contatou a Universidade Federal de Pernambuco para apoiar o restauro do jardim e homenagear o seu mentor. A restauração se iniciou em 2003 e suscitou, novamente, polêmicas na cidade do Recife por causa da retirada de árvores frutíferas que tinham crescido espontaneamente no local e não faziam parte do projeto de Burle Marx. Estas árvores, tais como mangueira, oiti, azeitona e acácia tinham se integrado ao cotidiano da cidade e proporcionavam sombra para os frequentadores, já que as projetadas por Burle Marx para o entorno da Praça para cumprir esta finalidade tinha desaparecido por falta de manutenção. 

Em 2004, concluiu-se a restauração da Praça Euclides da Cunha de acordo com os princípios da Carta de Florença, para que pudesse ser reconhecido como um Jardim Histórico. De acordo com Ana Rita Carneiro, a Praça Euclides da Cunha tornou-se um marco simbólico na paisagem urbana e têm sido constantemente visitada por pesquisadores de jardins históricos de diversas origens (CARNEIRO, 2009: 233).

Após a temporada em Recife, Burle Marx retorna para o Rio de Janeiro. 

**O texto aqui publicado é parte do artigo disponível na Revista Acadêmica Cultura Histórica & Patrimônio Cultural. O artigo completo com todas as referências bibliográficas pode ser acessado por meio do link:http://migre.me/lf54z



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