8 de dezembro de 2014

Anêmona aérea, diáfana pétala de luz

O "nosso" jardineiro, arquiteto da paisagem, Carlos Fernando de Moura Delphim escreveu, em certa ocasião, uma ode apropriada a um dos seres mais belos e efêmeros da natureza: as libélulas.

"Fico pensando em quantas criaturas desapareceram sem que ninguém tivesse dado por isso. Em Ouro Preto, antigamente, existiam joaninhas vermelhas com pintas pretas como as dos livros infantis ingleses. Não sei se foi a poluição da Alcan, hoje já controlada, ou se foi um outro fator, só sei que desapareceram para sempre.
Por falar em libélulas, para mim esses são uns dos seres mais maravilhosos do universo. Pura luz e transparência. Serve-lhes, perfeitamente, a descrição que Cecília Meirelles faz das borboletas:
“Criatura de pólen, de aragem, transparente anêmona aérea, diáfana pétala da vida”.

Encomendei um livro da Inglaterra, British Dragonflies e acabei doando para o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri onde será bem mais útil. Outro dia fiz uma palestra, acho que no Nordeste, e mencionei a libélula fossilizada de Santana do Cariri. Citei então um hai-kai feito por um discípulos de Ba-sho. Esse poema foi por todos considerado perfeito na forma, na cadência, na estrutura:
Uma libélula rubra.
Arranquemo-lhe as asas:
Uma pimenta.
Ba-sho, autor do poema considerado como o mais belo do mundo reparou: a poesia não pode estimular a violência. E alterou o hai-kai para:
Uma pimenta rubra.
Coloquemo-lhe asas:
Uma libélula .
Não é perfeito? Só quem tem esta perfeição pode entender a beleza das libélulas".

Carlos Fernando de Moura Delphim – Rio de Janeiro – RJ

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